Administração Pública

Só viaduto é pouco na
Avenida dos Estados

DANIEL LIMA - 06/05/2024

O prefeito Paulinho Serra não pode encerrar oito anos de dois mandatos e entregar a quem quer que seja a Administração da cidade mais desindustrializada do Estado de São Paulo nos últimos 40 anos sem prestar contas das obras e do empréstimo financeiro internacional de R$ 150 milhões que compuseram o projetado Complexo Viário Santa Terezinha.

Um complexo viário e logístico que não existe, apesar de toda a propaganda. O que existe e foi festejado como um gol de placa foram as obras no Viaduto Castelo Branco, que já existia e estava despencando em vários pontos. Como se observa, o existir e o não existir se enquadram numa sinfonia estranha. A prometida transposição da Avenida dos Estados está longe de ser efetivada.

Tentar iludir os contribuintes ao propagar a ideia, quando não a garantia, de que o Viaduto Castelo Branco é o todo do projeto que demandou empréstimo internacional é desprezar a própria importância que a gestão de Paulinho Serra atribuiu ao investimento milionário. O Viaduto Castelo Branco é apenas uma parte de um todo muito mais amplo, transformador e de alguma forma, mas nem tanto como se deu ênfase, incentivador da quebra da baixa mobilidade urbana e, principalmente logística de Santo André. Santo André é uma cidade encalacrada demais para sair da arapuca viária com uma obra isolada. Venderam o projeto como uma obra reestruturante. Está longe disso,  completa ou parcial.

SOMENTE O VIADUTO  

Paulinho Serra fez da Avenida dos Estados um dos cartões postais de modernidade de Santo André no campo logístico, o maior calcanhar de Aquiles da cidade. Mas tudo não passa de trapaça informativa. Não fica bem para um prefeito em fim de segundo mandato deixar de explicar o que se passa. Não é desonra alguma.

Todo o mundo sabe que o cronograma de obras públicas estica o tempo todo. O que não pode é entregar um pedaço sem comunicar  que é um pedaço, apenas um pedaço.

O Complexo Viário Santa Terezinha não avançou um milímetro em relação ao que foi anunciado, exceto a reforma do Viaduto Castelo Branco.

Em novembro de 2022, para se ter referencial de tempo, o Diário do Grande ABC e outros jornais impressos e digitais da região deram amplo destaque à informação de que o complexo viário seria entregue até meados de 2024, que está chegando. A informação já significava esticamento do cronograma. O anúncio oficial, em placa convencional de obra, registrava o limite para a finalização das obras em agosto de 2023. Ao que parece a placa desapareceu. Pode ter virado fogueira ou coisa semelhante. Mas há registros fotográficos. As listas de transmissão do aplicativo Whatzapp de CapitalSocial receberam a Imagem.

CRONOGRAMA E DINHEIRO

O que se coloca à avaliação geral, e principalmente da Administração de Paulinho Serra, são dois pontos nucleares. Primeiro, por que o cronograma anunciado incialmente, reformatado e esticado ainda não foi cumprido. Segundo, que tem tudo a ver com o primeiro: qual é o fluxo de liberação do financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento que praticamente é responsável por todos os recursos anunciados.

Fosse a gestão de Paulinho Serra o mínimo de um prefeito que atua com o dinheiro dos contribuintes, as explicações sobre o estágio de obras e de liberação de recursos de investimentos já teriam sido comunicadas. Sobretudo porque o titular da Prefeitura está vivendo os últimos meses de mandato. Festejar, como festejou recentemente, a liberação do Viaduto Castelo Branco, depois de  reformas, como se o Complexo Viário Santa Terezinha fosse integralmente entregue,  é negar, quando não sonegar, a linha do tempo de compromisso público com o projeto.

Um filmete de dois minutos, ao qual CapitalSocial teve acesso e massificou com o uso do aplicativo WhatsApp, fornece todas as provas do crime de desinformação da Prefeitura. Entre o que o vídeo oficial da Prefeitura mostra em forma de projeto e o que se encontra de fato é o mesmo entre realidade e ficção.

NOTÍCIA REPRODUZIDA

CapitalSocial adota em respeito aos leitores e principalmente à prova de questionamentos geralmente vazios a reprodução de textos de terceiros quando situação semelhante a que está posta se torna relevante. Na sequência, reproduziremos os principais trechos da matéria publicada no Diário do Grande ABC de 11 de novembro de 2022 sob o título “Complexo Santa Terezinha deve ser entregue até o meio de 2023”. Leiam:

 Maior obra de mobilidade urbana dos últimos 50 anos em Santo André, o Complexo Viário Santa Teresinha deverá ser entregue em julho de 2024. Essa é a expectativa do Paço, após anúncios feitos pelo prefeito do município, Paulo Serra (PSDB), durante vistoria local na manhã de ontem. A partir da virada de segunda para terça-feira, à 0h, o Viaduto Castelo Branco, importante ponto de tráfego de Santo André, será totalmente interditado para trânsito de veículos. A medida visa agilizar as obras do Complexo e do parque urbano, e deve durar 20 meses, até julho de 2024, com entrega realizada junto à de outras intervenções no local.

MAIS PROJETO

 Com investimentos próximo a R$ 150 milhões, sendo parte de recursos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o Complexo Viário Santa Terezinha iniciou no último mês a confecção dos pilares da passarela metálica e preparação de vigas e colunas que darão sustentação a dois novos viadutos no perímetro. Além deles, será entregue três pontes e a substituição da passarela atual. “Vamos dar esse próximo passo na obra, que vai resolver de maneira definitiva essa transposição de Santa Terezinha para Utinga e de toda a região do primeiro para o Segundo Subdistrito. Vamos fazer grande operação, utilizando o viaduto de Utinga (Juvenal Fontanella) para ser um canal de escoamento de trânsito. Mesmo com todas as medidas, sabemos que vai haver transtorno, mas por um bom motivo”, afirmou o prefeito durante sua passagem pelo local.

MAIS PROJETO

 Segundo o chefe do Executivo, cerca de 5.000 caros passam no local por hora, e 3.000 caminhões por dia. Após a finalização das obras, a Avenida dos Estados vai ser alterada, e os dois viadutos ajudarão a retirar 70% do volume de tráfego na área. A expectativa é inverter a logica semafórica do local, com passagem direta do Viaduto Castelo Branco à Alameda Martins Fontes, por cima do Rio Tamanduateí. “Resolver de maneira definitiva esse eixo logístico, econômico e importante que é a Avenida dos Estados, que, além dessa obra, passa por modernização, com asfalto, iluminação e canalização  do Tamanduateí”, finaliza Paulo Serra. (...) O Complexo Viário Santa Terezinha integra o corredor que vem desde São Bernardo até Santo André. A obra é a maior em mobilidade urbana desde que a Avenida Edson Danilo Dotto, popularmente chamada de Perimetral, foi inaugurada  -- publicou o jornal.

MAIS PROJETO

 O Complexo Santa Terezinha pretende facilitar a ligação da Via Anchieta com a Avenida dos Estados, já que as vias ligam a Refinaria de Capuava, do Porto Seco de Santo André e de empresas junto ao Porto de Santos. Segundo o secretário de Mobilidade Urbana do município, Almir Cicote, o Paço vai encaminhar informações sobre rotas para o Google. Os dados serão enviados a uma de suas aplicações, a Waze, auxiliando motoristas a encontrar caminhos para motoristas que usam o Viaduto Castelo Branco. 

DETALHES DA OBRA

O Complexo Santa Teresinha compreende a execução de dois viadutos com aproximadamente 750 metros de extensão cada; três pequenas pontes com extensão de cerca de 28 metros cada; uma passarela metálica ao nível do Rio Tamanduateí, com 31 metros de extensão, compartilhada entre pedestres e ciclistas. O projeto inclui ainda a recuperação, reforço e remodelação estrutural do Viaduto Castelo Branco, projetado e construído no final da década de 1960. A Obra de Arte Especial possui aproximadamente 620 metros de extensão, interligando uma importante via regional, o Corredor ABD à Avenida dos Estados.

Também faz parte do escopo contratual a revitalização da Praça Samuel de Castro Neves e a readequação do sistema viário e de acessibilidade no entorno da obra. Todas essas estruturas (viadutos e pontes) estão localizadas na Avenida dos Estados, às margens do Rio Tamanduateí, compondo uma das principais ligações da zona metropolitana de São Paulo com as cidades do Grande ABC e Rodoanel. Dentre os principais elementos, segundo boletim de imprensa distribuído à época, destaca-se a construção dos dois viadutos de grande porte, que serão dispostos paralelamente ao Rio Tamanduateí. As fundações profundas serão em estacas do tipo raiz (diâmetros de 41 e 45 centímetros) e escavada de grande diâmetro (diâmetros de 1,5 metro), com comprimentos variando entre 25 e 35 metros.

A superestrutura dos viadutos será composta por vigas pré-moldadas protendidas e vigas metálicas que permitirão vencer vãos de até 50 metros. Ao longo de quase 1,4 quilômetros de extensão, a Obra de Arte Especial possui duas pistas, com 700 metros no sentido do município de Mauá e 700 metros no sentido oposto, em direção a São Caetano do Sul/São Paulo. Ainda segundo o material distribuído, as demais construções trazem as mesmas tipologias estruturais e garantem a funcionalidade do sistema proposto pelo município. Ao todo, serão implantados mais de 13 mil metros quadrados de novos viadutos e pontes. Todo o complexo de obras está em ambiento urbano, com grande adensamento de imóveis no entorno e proximidade ao Rio Tamanduateí. Por conta disso, foi realizada uma prévia identificação e compatibilização de todas as interferências que pudessem afetar a execução dos serviços.

MAIS DETALHES

Ainda segundo o material oficial, um grande desafio fica por conta da Recuperação e Reforço do Viaduto Castelo Branco, que compreende uma Obra de Arte Especial com 620 metros de extensão, distribuídos em 20 vãos, formados por caixões em seções celulares variáveis protendidos.

O projeto estrutural original foi desenvolvido no final da década de 1960 por um renomado escritório de Engenharia, sob orientação do engenheiro Roberto Rossi Zucollo, reconhecido como introdutor do concreto protendido no Brasil. A construção foi finalizada em meados da década de 1970. O viaduto integra um sistema viário crítico, localizado no Centro de Santo André/SP, com a função de interligar a Avenida dos Estados com a Avenida Prestes Maia.

Segue o material: “Além disso, tem a importante funcionalidade de transposição sobre a Linha 10 –Turquesa da CPTM e Avenida Industrial, das Ruas Presidente Roosevelt e Alfredo Paegle e Praça Galdino Ramos da Silva. A recuperação estrutural contempla o tratamento de diversas patologias identificadas na Obra de Arte Especial. Por conta disso, a Construtora Terracom promoveu diversas campanhas de ensaios tecnológicos do viaduto com a finalidade de confirmar os mecanismos de degradação da estrutura e, assim, prover as melhores técnicas construtivas de reparo, bem como a definição dos materiais empregados no processo de recuperação.



Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 799 matérias | Página 1

30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André
05/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (12)
20/03/2024 Paulinho Serra: bom de voto e ruim de governo (11)
07/03/2024 Paulinho Serra: bom de voto e ruim de governo (10)
04/03/2024 Impostos sobem bem mais que salários após Dilma
28/02/2024 Paulinho Serra: bom de voto e ruim de governo (9)
21/02/2024 Celso Daniel: bom de voto e também bom de governo
16/02/2024 Receita x Gastos: quem é o melhor dos três prefeitos?
14/02/2024 Máquina pública: quando os números podem enganar
31/01/2024 Paulinho Serra: bom de voto e ruim de governo (8)
22/01/2024 Auditores fiscais denunciam pedaladas de Paulinho Serra
18/01/2024 Legado de Celso Daniel é sucateado em 22 anos
16/01/2024 Paulinho Serra: bom de voto e ruim de governo (7)
11/01/2024 Paulinho Serra: bom de voto e ruim de governo (6)
21/12/2023 Privatiza, Auricchio; privatiza, Auricchio!